sábado, 23 de maio de 2009

"Rainha dos raios"

No tempo da ingenuidade
As nuvens eram feitas de plumas
Ou de formatos estranhos
Um rosto, uma cara feia
Um monstro, um animal
Figuras que se sugeriam
Num olhar pequeno
De quem somente via
O que era para ser enxergado
No tempo do amor
As nuvens eram transportadas pelo vento
Vento que induzia o sentimento
Palavras, sussurros
Transformava a carne
E os ossos
Em corpos etéreos
Que se encontravam para dançar
Amar
E sorrir
Dentro de um coração que não era nem grande
Nem pequeno
De quem somente sentia
O que era para ser experimentado
No tempo da saudade
As nuvens carregavam
Ou levavam
O que de sobra havia
De tudo o que era para ter ficado
E hoje
No tempo de agora
A nuvem que vem vindo
Traz somente uma chuva impregnada
No céu
E em tudo o que deveria estar plumado
Senhora das nuvens de chumbo
Licença que traz o vermelho
No que ora está acizentado
Somente
Eparrei
E chuva
No tempo...

imagem daqui

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Memória da pele



"Eu já esqueci você

Tento crer

Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer

Sugo sempre

Busco sempre

A sonhar em vão

Cor vermelha carne da sua boca, coração

Eu já esqueci você, tento crer

Seu nome, sua cara, seu jeito, seu odor

Sua casa, sua cama

Sua carne, seu suor

Eu pertenço a raça da pedra dura

Quando enfim juro que esqueci

Quem se lembra de você em mim

Em mim

Não sou eu sofro e sei

Não sou eu finjo que não sei, não sou eu

Sonho bocas que murmuram

Tranço em pernas que procuram enfim

Não sou eu sofro e sei

Quem se lembra de você em mim

Eu sei, eu sei

Bate é na memória da minha pele

Bate é no sangue que bombeia

Na minha veia

Bate é no champanhe que borbulhava

Na sua taça e que borbulha agora na taça da minha cabeça

Eu já esqueci você, tento crer

Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer

Sugo sempre Busco sempre a sonhar em vão

Cor vermelha, carne da sua boca, coração "#

Hoje acordei assim.
Lembrei de artistas que nunca mais ouvi, como Milton Nascimento. Por coincidência, ao abrir o jornal matutino, vi que chegou ao Brasil, pela Biscoito Fino, o álbum Belmondo e Milton, gravado na França em 2008, no qual os dois franceses e irmãos Belmondo, bola da vez do jazz na atualidade, mergulham no tempo áureo de Milton e escolhem grandes pérolas de sua obra, misturando-as em novos arranjos.
Enquanto lia esta notícia e me preparava para fazer as coisas sérias( e chatas) do dia, tocou no rádio João Bosco em Memória da Pele. E, por falar nisso, João também anda sumido.
Pronto.
Eu que hoje acordei assim.
Lembrei que havia esquecido.
(Ou pensava que havia)
Mas, que ficam sempre, e de vez em quando...
as memórias
na pele.
Ainda assim. "eu já esqueci você. Tento crer"!

#Memória da pele é música de João Bosco e vale a pena ouvir

domingo, 5 de abril de 2009

Quando eu vi as borboletas amarelas

foto daqui
A gente não sabe quando eles vêm:os momentos de loucura.
Aqueles que nos transformam em desvairados, rasgados, escangalhados por entre os muros da cidade.
Ou do quarto.
Ou da casa.
Ou dos nossos próprios muros do coração.
Que nos atiram sobre as pedras, ou que nos fazem atirar pedras sobre os muros da cidade.
Ou do quarto.
Ou da casa.
Ou dos nossos próprios muros do coração.
E, fatalmente, ferir e sermos feridos.
A gente nunca sabe quando eles vêm: os momentos de doçura.
Aqueles que nos transformam em desvairados, rasgados, escangalhados por entre os muros da cidade.
Ou do quarto.
Ou da casa.
Ou dos nossos próprios muros do coração.
Coração traiçoeiro.
Vendido.
Falido.
Que rasteja entre a loucura e a doçura.
Ou que é louco e adoça.
Ou que adoça os loucos, em seus momentos de loucura e de doçura.
A gente nunca sabe quando eles vêm.
A gente nunca sabe quando eles vão.
Os momentos.
A loucura.
A doçura.
E as muitas borboletas amarelas que voam lá fora.
Neste dia de domingo, azul!
E amarelo.
De onde vieram as borboletas amarelas que ontem eu não vi?
Estivera, o dia todo, entre muros.
...a loucura!
E hoje foi só abrir a janela...
E olhar
...a doçura...
Estava lá!
As borboletas amarelas, muitas, que a gente nunca sabe quando elas vêm.
Loucas, doces.
E sempre amarelas, querendo pousar em meu coração rendido, vendido, falido...
...que rasteja entre a loucura e a doçura.
E agora...
Por entre as borboletas amarelas.

sábado, 21 de março de 2009

Carta Repúdio à Imobiliária Borja

Minha solidariedade à Luciana Pinto, colega assistente social, mulher negra, como eu, ainda sujeita a atos discriminatórios e racistas, como o que ocorreu na Imobiliária Borja.
Transcrevo o email encaminhado por Luciana, bem como a sua carta de repúdio à referida empresa imobiliária.
Triste Bahia, a Roma Negra!
(obrigada amiga Ana Maria, pelo repasse da carta!)


Pessoal
Abaixo segue a carta de repúdio (já encaminhada à imobiliária Borja, em Salvador) pela atitude de discriminação que teve comigo na última quarta-feira.
Além de outras providências que estamos tomando aqui, pedimos aos amigos/as que divulguem em suas listas de e-mails e quem puder e quiser, pode reafirmar o contéudo, assinar e redirecionar para -
borjaimobiliaria@ hotmail.com ou para o fax (071) 3264 70 00. Precisamos, minimamente, intimidar outros desgastes dessa natureza!
É isso.
Grande abraço
Luciana Pinto.

À Imobiliária Borja
At. Sr. Borja
Prezado Senhor
Venho através desta refletir acerca do tratamento que recebi na sua imobiliária na última terça-feira, dia 16/03/2009, quando a visitei na ilusória pretensão de alugar um apartamento situado à Rua Banco dos Ingleses, Edifício Anury, Campo Grande – Salvador.
Ora, mas quanta petulância, não é? Uma mulher, negra, solteira, sozinha numa capital como esta, querer morar numa área tão privilegiada da cidade!
Pois bem, é na condição de mulher, solteira, negra, de classe social não tão privilegiada e que vive sozinha, sim, na Bahia, que venho destacar o meu repúdio ao tratamento que recebi de sua pessoa.
Entendo as burocracias do mundo imobiliário e acho que garantias são necessárias em procedimentos como compra, venda ou locações de imóveis ou outros tipos de bens de maior valor.
Mas, indiscutivelmente, gostaria de fingir que não entendi o tom de voz utilizado comigo pelo senhor ao me repassar as “exigências” da imobiliária para a locação. Tampouco gostaria de não ter entendido as "peculiaridades" apontadas para esse processo.
Mas claro que como uma mulher pós-graduada, com acesso à informação e capacidade de crítica social – não receio em chamar essa atitude de DISCRIMINAÇÃO. E talvez caiba lembrá-lo, ou informá-lo caso não tenha ciência, que discriminação, pela lei brasileira vigente, constitui-se como crime.
Só não sei mesmo por quais elementos da minha identidade essa discriminação se deu. Seria por eu ser mulher, negra, ou por não estar figurando entre as classes sociais mais abastadas da sociedade soteropolitana.
Seria muita ingenuidade minha achar que apenas um desses aspectos tivesse lhe levado à desconfiança. Então, só me resta crer que deve ter sido por todos eles juntos.
Chego a imaginar a sua expressão querendo me convencer de que houve um engano, que eu estava nervosa, ansiosa, ou outra característica que machismo atribui a – "coisas de mulher". Será mesmo?
Então por favor, me diga: por que eu deveria ter como fiador um MÉDICO, ou um funcionário público que, não fosse “soldado raso”, como o senhor se referiu aos trabalhadores brasileiros que, vinculados ao governo, ganham menos de R$ 4.000,00 (quatro mil reais).
Porque não serviria uma fiadora (também mulher, também solteira e que tivesse a mesma profissão que eu – ASSISTENTE SOCIAL?)
Qual o problema de se trabalhar em uma ONG? A respeito disso, para o caso de precisar se atualizar sobre o assunto e, da próxima vez, referir-se a esse espaço de atuação profissional com mais conhecimento, recomendo que consulte alguns sites de organizações, disponiveis, por exemplo, no portal da Associação Brasileira de ONGs - ABONG -
www.abong.org. br.
Ah, não entendo também porque a dúvida de que é possível se ter um pró-labore mensal, fruto de um pequeno empreendimento e comprová-lo através de uma DECORE – Declaração Comprobatória de Percepção de Rendimentos – emitida por profissional de contabilidade habilitado com referendo dos Conselhos Regionais de Contabilidade. É com esse documento que muitos brasileiros autônomos hoje conseguem conquistar importantes bens materiais, sabia?
Ah, também não entendo porque é que seria de bom tom eu ter um carro para comprovar minha lisura. Só posso concluir que minha lisura deve estar diretamente vinculada às estrelas do meu cartão de crédito ou ao extrato da minha conta bancária.
Não entendo porque um inquilino que ainda nem ocupou o imóvel tem de pagar por uma chamada "taxa de pintura", que será utilizada quando da recisão contratual. Poxa, o morador nem chegou e já tem que arcar com despesas de saída? É isso mesmo? Ora, isso não é estimulante, Senhor Borja. Talvez seja um caso de um planejamento na sua empresa, para rever suas estratégias de lucro.
E mais ainda, não entendo porque essas informações tão precisas não me foram passadas por escrito, já que a imobiliária é tão exigente com "alguns" de seus supostos clientes.
Bem, ainda que todas essas “exigências” me fossem comprovadas legalmente como imprescindíveis, eu ainda assim estaria despreendendo energia para lhe escrever essa carta e dizer que não estou acostumada a esse tipo de tratamento preconceituoso, que sem dúvida não deve ter sido dispensado ao – segundo descrições suas – "homem rico e poderoso que estava interessado em alugar o mesmo apartamento que eu". Novamente segundo o senhor: "um apartamento que para ele seria simplório" – não é mesmo?
Provavelmente o senhor, do "topo" do seu “poder”, de quem vê o mar do alto, mas está longe de ser Deus, não deve precisar de outras clientes como eu. O que é bom para todos. Afinal, deve lidar com muitos potenciais clientes de classe mais abastada, como o cidadão que alugou o referido imóvel. Talvez esteja até achando tudo isso uma grande balela. Paciência. Estou fazendo a minha parte para tentar evitar que outras pessoas sofram o mesmo tipo de constrangimento que eu sofri.
Finalizando, não conheço funcionários públicos federais que ganhem cerca ou mais de 8 mil reais e tenham um carro e dois imóveis escriturados em seu nome. Ou seja, não conheço o que o senhor caracteriza como: "um bom fiador".
Ah e também não tenho um médico na família. Mas, tê-lo de nada adiantaria, pois, dificilmente um médico, principalmente se fosse funcionário público, teria condições de ser meu fiador em sua imobiliária. Fato que a essa altura só me causam contentamento, pois me favorecem a nunca me tornar sua cliente.
A título de informação, talvez seja interessante aproveitar essa oportunidade explicar-lhe que um médico vinculado ao SUS, tem hoje, segundo dados do Conselho Regional de Medicina da Bahia – CREMEB - um salário base de R$ 550,00, com variações até o teto máximo de R$ 2.800,00, de acordo com as gratificações, que são diretamente ligadas ao número de especialidades, carga horária, cirurgias e outros procedimentos realizados diariamente. Portanto, talvez tenha faltado o senhor me informar de que país deveria ser esse médico tão abastado que afiançaria minha locação.
Bem, acho que outras informações sobre esse assunto ou sobre a realidade de outros profissionais que o senhor disse – sem justificativa – "rejeitar para a condição de fiador", como – advogados, contadores e pelo visto, os próprios assistentes sociais, o senhor pode obter navegando em sites na Internet ou buscando programas de TVs informativos. Para isso veja o guia de canais de sua TV a cabo.
No mais, solicito que agradeça por mim aos seus funcionários, pela distinção com a qual me trataram e a título de crítica construtiva, sugiro que o senhor aprenda com eles algumas posturas mais cordiais, para usar com outras pessoas que procurem seu estabelecimento, independente de gênero, raça ou padrão social, ainda que estes seguramente, não sejam indicados por mim e nem por nenhuma das pessoas com quem partilhei esse fato.

Salvador, 19 de março de 2009.
Luciana Pinto.

terça-feira, 3 de março de 2009

Mês do Teatro e do Circo

Veja a programação das Bibliotecas Públicas do Estado da Bahia, em comemoração ao Mês do Teatro e do Circo, divulgada pela Fundação Pedro Calmon. É tudo de graça!
Clique na imagem para ampliá-la.
Boa diversão!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Mas... e se o carnaval durasse o ano inteiro?

Foto extraída daqui
“Tô me guardando para quando o carnaval chegar”. “Pra tudo se acabar na quarta-feira.” “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”. “Ah! Que bom você chegou, bem vindo a Salvador, coração do Brasil”. “Vai buscar Dalila, vai buscar Dalila, ligeiro”.
Marchinhas, sambas, pagodes, axé-music... Decibéis para os ouvidos a qualquer hora.
Luzes, megavolts, claridade para os olhos de dia e de noite.
Cores, abadás, fantasias, shortinhos para as mulheres, camisetas para os homens.
Rebolados e remelexos, paqueras, flertes, gandaia, sorrisos, água mineral e cerveja.
Daqui e de lá, somamos quase quatro milhões de pessoas pelas ruas de Salvador, abrigados por uma superestrutura (já não sei se é com hífen ou sem, por conta do acordo ortográfico) de segurança, saúde e transporte de massa.
Quatro milhões de pessoas que intercambiam redes sociais, de linguagem, de sotaques e de suores, sob o mesmo céu e sob o mesmo som.
Explicar o carnaval de Salvador é tentar o inexplicável, pelo menos para mim. É a festa do exagero, dos números exacerbados. Tudo se eleva a décima potência, quer seja na estrutura da folia, quer seja em nossos poros de subjetividade.
Acredito que é proibido pensar nestes dias de festa, ainda que seja pensar sobre a própria festa, pois é o prazer, a liberdade de exprimir e de sentir que está em vaporização.
É o tempo do estar à toa!
Considero que é uma experiência pela qual todo ser humano que se preze tem de passar, pelo menos uma vez em sua vida. Entretanto, é preciso ter coragem, preparo físico e coração aberto para enfrentar a multidão, caso não queira ouvir o refrão da Timbalada: “ se não agüenta, pra que veio?”.
Como diz meu amigo Beto, a vida se divide em AC e DC. Antes do carnaval e depois do carnaval.
Voltamos à “aparente normalidade”, sem megavolts, megahertz, megadecibéis. Recompomos-nos e aqui estamos nós, bem vindos a nossas rotinas.
Numa volta pelo centro de Salvador, logo após a folia, senti um quê de falsidade exalando da Cidade. Ela estava recomposta e, rapidamente, vestida de paletó e gravata, de lojas abertas, de ruas limpas, de congestionamentos, de sons urbanos, apenas.
A instantânea capacidade de auto-regeneração me soou muito falsa.
Entrei no prédio em que moro, fechei o portão da garagem, desliguei o motor do carro. Subi para o meu apartamento e apelei para Chico Buarque. Cantei.
“A minha gente sofrida despediu-se da dor, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor. A marcha alegre se espalhou pela avenida e insistiu...Minha cidade toda se enfeitou, pra ver a banda passar...Mas, para o meu desencanto o que era doce acabou. Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou. E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor, depois da banda passar, cantando coisas de amor.”
Então, estou no DC. Estou de volta! Estou na área! Estou por aqui...depois da banda passar!
Mas...e se o carnaval fosse o ano inteiro?!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Brindemos a 2009, por que "vamos precisar de todo mundo"!

Anda, quero te dizer nenhum segredo
Falo desse chão, da nossa casa, vem que tá na hora de arrumar
Tempo, quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meus semelhantes, nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado e quem não é tolo pode ver
A paz na Terra, amor, o pé na terra
A paz na Terra, amor, o sal da...
Terra, és o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro, tu que és a nave nossa irmã
Canta, leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com teus frutos, tu que és do homem a maçã
Vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que dois
Pra melhor juntar as nossas forças é só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora para merecer quem vem depois
Deixa nascer o amor
Deixa fluir o amor
Deixa crescer o amor
Deixa viver o amor
O sal da terra, amor
(O Sal da Terra é música de Beto Guedes e Ronaldo Bastos)